Redescobrir as origens numa pequena
aldeia do Norte de Itália
Planeamos
sair ao início da tarde, rumo à aldeia de Solferino, no norte da Itália, mas já
partimos tarde. A hora prevista transformou-se em duas horas de atraso. Afinal
ainda provámos as farturas de S. João, em plena Avenida da Liberdade, enquanto
resolvíamos um percalço mecânico e debatíamos efusivamente qual de nós teria o privilégio
de sentar no banco da frente durante a primeira etapa de quase 800 km. O plano inicial
era um jantar tardio em San Sebastian, em plena fronteira entre Espanha e
França, mas, enquanto escrevo, duvido da nossa capacidade para cumprirmos o
roteiro, e procuro uma estratégia alternativa.
Os
próximos dias serão vividos com uma família diferente. Os muitos quilómetros de
estrada obrigam-nos a conviver longas horas com quem não escolhemos. Penso
naquilo que nos une. O entusiasmo pela causa humanitária parece ser o
denominador comum entre todos. A paixão pela organização, onde trabalhamos e
convivemos, traz-nos, de alguma forma, unidos, e aproxima-nos. Pelo menos neste
início de viagem ainda não conseguimos perceber o que nos distingue, apenas o
que nos une: uma vontade genuína de chegar ao local onde tudo começou, de
descobrir um sentido para as longas horas de voluntariado que parecem marcar as
vidas de cada um de nós nos últimos meses. O cansaço, o sono acumulado de uma
noite mal dormida, e o convívio íntimo com o banco do carro, provavelmente
abalarão a harmonia do grupo que por agora reina. Mas ainda não! Um dos aspetos
mais interessantes de pertencer a uma organização internacional como esta é
sentir que na diversidade de cada país, de cada cultura, e de cada mentalidade,
existe um fundo comum que nos faz sentir imediatamente empatia com o outro. Em
Solferino encontraremos gente de todo o mundo, voluntários e voluntárias de
quem parecemos já ser amigos, sem nunca nos termos visto. Partilhar um
sentimento de inconformidade pelas desigualdades sociais, pela defesa da vida e
da dignidade humana e luta pela transformação da realidade à nossa volta,
aproxima-nos. É com este pensamento que avançamos para o dia de amanhã.
Planeamos acordar já com o Mediterrâneo como pano de fundo, e tomar um café com
vista sobre a marina de Saint Tropéz. Isto é, se a noite correr bem! Mas sobre
isso falaremos amanhã, que, agora sim, é tempo de nos fazermos à estrada!
Até
lá!
João
Gomes
Este texto publicado na edição impressa do jornal Correio do Minho de Sexta-feira, 21 de Junho de 2013
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