[Vocês não estão a ver, mas acreditem quando digo que estou há mais de cinco minutos a tentar começar a escrever, porque estou num turbilhão de emoções que nem consigo (d)escrever! E estou a escrever isto no quarto do hotel, nos 15 minutos que restam antes do almoço, enquanto converso com a Maria, a Julia, a romena voluntário da Cruz Vermelha, as quatro turcas e turco com quem partilhamos quarto, e o Gonçalo - o grande líder deste grupo - acabou de entrar para nos devolver o passaporte.]
Ora pois muito bem, aqui estou eu novamente, para vos contar o que aconteceu no terceiro dia, o melhor de todos, até agora. Portanto, depois da comitiva portuguesa ter feito deste hotel "uma casa a arder" (não me ocorre outra forma para descrever 30 e tal europeus a fazer o comboinho, e a imitar-nos enquanto dançávamos a célebre "Cabritinha", enquanto se deliciavam com chouriça assada, marmelada e queijo da serra, e, claro está, bebiam vinho do porto), eu não estava a ver como é que isto poderia melhorar...
Na manhã do terceiro dia estávamos inseridas no grupo quem ia visitar a "Toy Library", com o intuito de fazermos um anúncio publicitário, em vídeo, para promover este projecto. Saímos do hotel e caminhamos pelo centro de Ankara até ao local. Estou algo desiludida com a cidade, tenho que confessar. Excepção feita às mesquitas, o resto da cidade é muito cosmopolita, e não tem traços culturais quase nenhuns. Se me tivessem enviado uma foto da cidade, sem me dizerem qual era, eu não ia sequer saber contextualizar o país! Talvez mude de opinião no dia da visita cultural...Mas continuando com a Toy Library: aquilo funciona exactamente como uma biblioteca normal, mas ao invés de livros, tem brinquedos, e existe essencialmente para dar resposta às necessidades das famílias carenciadas. Chegamos à porta e eles não a abriam enquanto não escolhessemos um líder do grupo, a quem seria entregue o envelope com as tarefas. Eu estava no fim do corredor, distraída com a decoração das portas, e eles elegeram-me a mim. Quando recebi o envelope, as chaves da porta estavam lá dentro, e fui informada que deveria guardá-las até ao fim do exchange. Pode parecer-vos demasiado, mas a sensação que me deu foi a de que me estavam a entregar uma espécie de chaves da cidades ou algo assim, porque nunca esperei que fosse eu, visto que os checos estavam em maioria, a probabilidade era que fosse um deles, mas na verdade até foram eles os primeiros a sugerir-me...O espaço é muito acolhedor e colorido, e eles têm imensos brinquedos! A nossa missão é fazer um vídeo promocional da biblioteca, e então eu coordenei os trabalhos, através de algumas dinâmicas de educação não formal, e correu tudo muito bem! Amanhã vamos juntar-nos no fim do almoço para terminar o guião, traduzi-lo para turco (com a ajuda de um turco, claro está), e escolher os planos de filmagem para sexta.
Da parte da tarde participei no primeiro dos workshops sobre Comunicação através da Dança. Adorei! Estivemos a fazer algumas dinâmicas de team building, pois no penúltimo dia teremos que participar numa performance que vai servir para o projecto final de curso da professora. Ela está a terminar o curso de professora de dança, e este é o projecto final dela, espero que corra bem! A continuar assim, vai ser muito divertido, e pedagógico, pois vai permitir-me trabalhar melhor a noção de tempo e de espaço, e da interacção entre estes e o meu corpo.
Ao contrário do que era expectável, a comida neste hotel deixa muito a desejar - para não me alongar muito em considerações, e por isso eu, a Maria, a Ana e a Marta, outras duas raparigas portuguesas, decidimos ir procurar um restaurante. Ambas estão a estudar pintura na FBAUP, e sabem imenso sobre o tema! À parte disto, a Marta também sabe muito sobre os melhores vídeos do youtube, e a Ana tem muitas histórias de Viena para contar, pois é lá que está a fazer ERASMUS. Escolhemos o primeiro restaurante em que apareceu alguém que sabia falar Inglês - o que é quase um milagre nesta cidade - e esperamos que nos indicassem mesa. Como estamos no Ramadão, os restaurantes estão todos muito cheios à noite, que é quando eles podem comer. Para não nos misturar com os locais, o empregado levou-nos para uma sala reservada a clientes especiais, com vista sobre todo o salão, e fez-nos algumas sugestões de comida, que acabamos por aceitar. Enquanto esperávamos, ele surge com pratos de entradas, que nós educadamente explicamos que não tínhamos pedido. Ao que ele respondeu: "Sim, eu sei, mas são oferta da casa". Ficamos maravilhadas com o gesto e com a comida. Finalmente, uma refeição decente! No final pagamos uns 9€ cada uma, o que é bastante barato, tendo em conta que o restaurante é o equivalente a um Expositor, ou La Castañuela cá de Ankara! Exagero? Não. Depois de pagarmos, estava a levantar-me para irmos embora, e o empregado pegou no meu casaco e ajudou-me a vesti-lo! A parte mais engraçada é que ele era vermelho, com o símbolo da UMinho a branco, e diz "Comunicação Social", mas enfim...
Voltamos ao hotel para participar na noite cultural da Polónia e da República Checa. Eu já estive em Varsóvia, por isso não foi assim uma grande descoberta, mas a República Checa foi uma surpresa agradável a vários níveis, em particular pelas pessoas (não que os polacos não sejam excelentes também, que o são, mas eu já estava à espera disso). O grupo checo é brutal! Malta mesmo animada, sociável, muito boa onda, e super participativos (como já referi, muitos deles estão no meu grupo de trabalho matinal). Imaginem só que eles se juntaram todos e cantaram uma canção com o meu nome! A tradução é qualquer coisa como "Paula és a nossa estrela mais brilhante", e estava tudo a correr bem, e toda eu a inchar de felicidade, até que me disseram que a música pertence a um anúncio publicitário a uma espécie de pudim flan lá da República Checa...Apesar disso, continuo a gostar muito deles, e amanhã já combinamos sentar-nos todos ao pequeno almoço. Mas isso já é uma história para a Maria contar.
Paula Ferreira Lobo
Sem comentários:
Enviar um comentário